segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Soneto de fim de semestre

Sinto falta de uma longa conversa,
E tenho saudades do teu carinho
Anseio contigo ter muito mais tempo!
Para fazermos novas descobertas...

Quero ficar aqui do teu ladinho
Dois recíprocos, um vice-versa
Totalmente enrolados nas cobertas
A perscrutar um novo passatempo

Pois tenhas paciência, é o que digo:
Eu sei... Sim! Que não pode ser tão ruim
Vir a (re) descobrir novos sorrisos

Tu, meu amado, e meu melhor amigo
És meu amor maior e estamos, enfim
juntos! A construir planos e improvisos.


G. Farfalla
''Amendoeira em flor'' - Van Gogh (1890)




sábado, 6 de julho de 2013

Até o fim

Quando tudo doi...
No coração, agonia!
Repenso o que foi,
''Estrada com ciprestes e estrelas'' - Van Gogh (1890)
Pois não é ironia,
Que um dia ruim
Cause grande epifania

Eu aqui de Arlequim,
A minha maior fobia!
Boba, eu choro
Não entro em histeria
E sim imploro
Uma enorme calmaria...

Respiro e levanto
Já que vejo no futuro
Um verdadeiro acalanto,
Seguro e maduro
E com esperança, canto:
''Caí, mas eu vou até o fim!''


G. Farfalla

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Em pedaços...

Ética e moral repletas de defeitos pelos
Sanguessugas dos nossos direitos.
Mensaleiros sem respeito,
Um bando de calhordas que tiram proveito!

As mãos continuam sujas,
Propinas tratadas como lambujas.
Não é só desvio de verbas e notas frias,
Esses canalhas são nossas ''crias''.

Pois o ''jeitinho brasileiro'', a malandragem,
Nada mais é do que tirar vantagem.
Então para restabelecer a moral esfacelada,
Cultive a ética dentro de casa.


G. Farfalla

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vem pra rua!


A postagem de hoje é especial. Hoje os cidadãos da minha cidade também demonstraram sua força e insatisfação nas ruas. O movimento ''#VemPraRua'' que se iniciou com os protestos ao aumento da tarifa do ônibus em São Paulo, ganhou força em diversos estados e aqui no Norte do país não foi diferente. A insatisfação é do povo brasileiro, de Norte a Sul. Todos nós estamos fazendo história. Obviamente participei do manifesto, fui entrevistada duas vezes e algumas perguntas foram recorrentes. Como por exemplo, a primeira ''Você está protestando pelos 0,20 centavos?'' e a segunda ''Você é de algum partido, ou veio acompanhar algum grupo partidário?''.
A resposta para a primeira pergunta basicamente foi: não, porém os 0,20 centavos foram o ESTOPIM para a insatisfação da população brasileira. Pois a precariedade não estava apenas no transporte, mas em todos os serviços públicos! Saúde, educação, segurança... Tudo o que é nosso direito, mas que pouquíssimos têm acesso e quando esses têm é precário. 
Já para a segunda pergunta foi peremptória: NÃO. Não sou de partido algum, e o grupo que estava comigo não é partidário. Ressaltei que a grandiosidade do movimento é essa -> SER APARTIDÁRIO. É um movimento do POVO BRASILEIRO. 
Acompanhei todo o trajeto e devo dizer o quanto fiquei emocionada quando cantaram o hino e a famosa musiquinha ''sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor''. Crianças, jovens (MUITOS JOVENS), idosos, adultos... O que mais tinha era a diversidade! Diversidade de ideias, idades, gêneros... E isso que tem feito esses protestos serem belíssimos! Sei que muitos estão dizendo que o protesto foi estragado pelos vândalos e marginais do final. Bom, quando tal balbúrdia começou a ocorrer, não era mais o protesto. Eu digo que foi um movimento a parte, realizado por oportunistas. Oportunistas da iniquidade, da barbaridade. Sendo assim, o protesto pacífico, o qual eu e mais milhares de pessoas fizemos parte entrará para a história de cada um, da cidade de Macapá, e do Brasil.
Hoje eu vou dormir com uma sensação nova... Um orgulho de ver pessoas saindo do comodismo, da alienação. E dormirei com um desejo de que tal sentimento perpetue-se em todos! Para que chegue às urnas, às famílias, ao futuro!

Fiz dois poemas para a ocasião. Todavia postarei apenas um, por enquanto. Boa noite a todos! :)

''HCAL''


Cadê o respeito?
Corredor não é leito!
Quimioterapia e radioterapia
Não tem, virou utopia

O que é direito de todos
É restrito a poucos
Infestação de ratos e baratas,
Os aparelhos são sucatas

Não tem o básico, nem medicamento
E o hospital está sujo e mofento!
E eu me pergunto... Cadê o investimento?!




G. Farfalla


terça-feira, 11 de junho de 2013

Catarse

A magnitude das boas coisas é subjetiva. Um grande livro, um grande filme, uma grande música possuem em comum o efeito que provocam naqueles que leem, assistem, ou ouvem. Não se trata de lógica e sim de sentimentos... É uma sensação catártica.

Um grande livro pode causar uma imersão tão profunda que realidade e fantasia misturam-se... A história torna-se o nosso universo paralelo, onde a imaginação é fundamental para a sua expansão. E quando a finitude das páginas chega, as mudanças e reflexões que trazem são inevitáveis. Uma magnífica libertação!

Um grande filme é similar, porém de forma menos gradativa, mais rápida, afinal -em média- são duas horas de estímulos contínuos. Um bombardeio de cenas, sons e efeitos... E diferente dos livros, a história já está ali, pronta, esperando apenas ser digerida e saciada. O efeito catártico vem mais depressa -não digo que seja efêmero, pois se for, não era um grande filme- e a libertação é arrebatadora! Uma explosão de sentimentos inebriante. 

Uma grande música traz o estímulo sublime de vozes, instrumentos, timbres e melodias adicionadas a uma letra bonita que se torna uma poesia cantada! Amor e tristeza... Sentimentos nas notas! Ela incita o cérebro a associar com a nossa própria vida. Versos tornam-se legenda de situações vividas. É extraordinário! É o gatilho para expressão dos próprios sentimentos. Uma verdadeira purificação instantânea da alma.

Pergunto se existe algo que possa proporcionar experiência similar. Mas é claro que existe! Não apenas livros, filmes, músicas, ou poesias nos fazem sentir tudo isso. Um grande amor também possui o mesmo efeito, a grande diferença está no tempo, já que é uma sensação éterea eterna! Buscamos em livros, filmes, músicas, poesias, nos sentir catárticos, igual em um grande amor.

Sendo assim, como definir exatamente a ''catarse'' proporcionada por tais experiências? No dicionário tal palavra possui diversos significados tanto na psicanálise, quanto na psicologia, ou na retórica. Porém, o que se insere perfeitamente nesse meu devaneio é este:''é a libertação de sentimentos reprimidos, seguida de um intenso alívio emocional''. O que remete à origem dela, ''catarse'' tem etimologia grega ''kátharsis''. Segundo Aristóteles  seria a ''purificação'' experimentada pelos espectadores após uma representação dramática teatral. Diria ainda mais! É a tal da sensação insólita que grandes feitos nos proporcionam... Catarse é o ápice, o gozo, o êxtase da expressão emocional da alma! A qual é causada por tudo que é inimaginável -coisas tão absurdamente maravilhosas- e fazem-nos sentir INFINITOS.


G. Farfalla




segunda-feira, 20 de maio de 2013

Egoísmo

Concentra-te em construir um futuro
Valendo-te de teu próprio esforço,
Para enfim colher o fruto maduro
De um mérito duradouro.

Convence-te que a vitória
É proveniente dos teus passos
E se ages prevendo elevar-te no espaço...
Tudo ruirá no fim da história.

Em geral, falta caráter nos homens
Que prejudicam-se, uns aos outros, sem dó.
Pensam em seus interesses e só,
Abomináveis individualistas insones.

Uma glória escassa
Não é conquista: é trapaça;
E não vale sequer um vintém
Se passares por cima de alguém.

Lara Utzig



Poesia escrita pela talentosíssima Lara Utizg. Ela traduz a infeliz situação dos homens egocêntricos que só almejam o seu próprio bem e o de mais ninguém. É perceptível como o egoísmo anda acompanhado da iniquidade, da inveja e do orgulho. Pode-se perceber que ele é a maior expressão da ignorância humana, da involução, da estagnação. Pessoas egoístas ainda não conseguem entender e praticar o amor em suas vidas e, por isso, agem de uma forma primitiva. Ora, involuídos são os que prejudicam outros para conseguirem o que querem. E o nosso mundo está repleto de pessoas com atitudes assim. É claro que todos devemos cultivar a humildade e o amor dentro de nós, pois ao vivermos em um mundo onde atitudes imorais são justificáveis devido aos seus fins, nós podemos acabar absorvendo algum hábito individualista. Então, pratique o desapego do seu egoísmo! Ele só lhe diminui. Eu só espero nunca perder minha fé nos homens. E que a frase ''eu acredito em um bom futuro'' não seja utopia.

domingo, 12 de maio de 2013

Amor de mãe

Um abraço infinito
Só pode ser materno
Não há nada mais bonito
Do que um amor eterno

Exercício de incondicionalidade
É o que deve ser,
Muito além de amabilidade
Desde que o vê nascer

Carregar, segurar, guiar...
Abnegação de seus próprios anseios
É uma obra diária de ''ensinar''
Difícil e cheia de contraveios

Não é apenas um sentimento,
Encaixa-se melhor como vocação
Portanto, tenha tento...
É a mais pura perfeição

G. Farfalla

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Sensibilidade

''Chair car'' - Edward Hopper (1965)

Quero que toques a profundidade do meu olhar
E tentes enxergar o que não te falo
Não há razão para ocluíres os teus sentidos
Chegues mais perto, vê o meu cheiro

Sente! Sei que não é tão fácil,
Mas tenta perceber o gosto deste som
Um sabor mortalmente confuso, porém suave
De acariciar as tuas papilas

É de uma grande sensibilidade
Compreenderes que não é tridimensional
E que preenche o espaço de forma diferente,
Pois poucas pessoas conseguem ouvir o som do silêncio

Desenvolve a habilidade de sentir com sinestesias
E não esqueças de ser bastante exagerado,
Visto que os sentimentos são um tanto barrocos!
Consegues ver na escuridão que a ausência da luz é surda?
Ahh, espero que tu sintas o silêncio... E sintas em demasia!


G. Farfalla




quarta-feira, 17 de abril de 2013

Avante

''Impression, soleil levant'' -  Claude Monet (1872)
Olvida o meu rosto
Com muito desgosto
Esquece a flor que te dei
Quando, um dia, foste rei

Fica mais atento
Quiçá em desalento
Exaure o que sentes, sai
Sem insistências e vai

Mitiga a tua dor
Desapega, pois já fui
Não sejas amador
O caminho não obstrui

Guarda na quietude
A palavra que morreu
Amor, plenitude
É o bem que se perdeu

Segue na tua estrada
Sucessão daquele rio
Busca a alvorada
Apaga o que é sombrio

Foge da ficção
Mundo de ilusão
Esperança que constroi
Lembra, mentira destroi

G. Farfalla





sexta-feira, 12 de abril de 2013

Não feche os olhos

Se eu te pedir pra não me esquecer
E se eu te escrever todo verão
Vai ser em vão? Ou não vai ser?

Se eu contar cada segundo
No tic tac desse mundo
O tempo passa e eu perco você

Se eu te ligar todo amanhecer
Falar que o dia é nosso então
Vai ser em vão? Ou não vai ser?

Porque lá fora já é primavera
E quanto mais o tempo espera
Mais eu quero correr pra você

Não feche os olhos
Não perca a cena
Que eu to chegando pra continuarmos

Não se desligue
Não me esqueça
Que eu to chegando pra continuarmos aquele beijo

S. Hosoume

Esse texto é a letra de uma música escrita por um grande amigo, ou melhor, um irmão de alma.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O voo

Oi... Tudo bem?
''To leave or be left behind'' - Brooke Shaden

O que eu poderia dizer sobre mim? Não é algo simples de se responder... É mais fácil sentir.

Eu queria ser o que pretendia ser. Entendes?

Vivo nessa ânsia do mundo de conceitos e definições! Mas e se eu for indefinível? Não és tu que responderá tal pergunta, eu sei.

Preciso de tempo, de oportunidades, para ter alguma ideia do que sou. Eu sou o que eu escolhi ser, já dizia Amarante. 

E o que foi que eu escolhi? Digamos que optei por romper a finitude do meu horizonte. Nada tolhirá o meu voo, fiquei muito tempo encarcerada neste maldito casulo. Algumas vezes iludi-me, pensando ter saído, todavia eu continuava lá, presa na escuridão.

Luz! É o que eu busco. Livrar-me-ei da inércia. Ela nada me modifica. É audácia demais querer desenvolver o meu ''eu'' para além do ideal? Ahh, eu sei, eu sei que a luz não irá ofuscar meu voo!

Sim, quero ascender... Ao além do infinito! Conheces tal lugar? Bom, estou indo para lá.

Vem...

G. Farfalla

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Lembrando de Francisco

        Seis décadas! Que se resumiam nos seus cabelos brancos e suas marcas de expressão. As marcas de uma longa vida. Lígia encontrava-se em pura nostalgia, pois não era só mais um inócuo sábado, era seu aniversário. Não acreditava que tanto tempo se passara... Sessenta anos! E ela ainda esperava ele voltar.

       Olhava para a foto em suas mãos e imaginava se era tarde demais. Ela vivera um grande amor, único e arrebatador! Como ela mesma dizia. E que pelas circunstâncias, não pôde florescer mais do que floresceu. 

        Francisco era o seu nome. Um homem que definições não lhe cabiam, o que ele representava para ela ultrapassava qualquer adjetivo. ''Magnificamente estupendo''? Por mais absurdo que fosse ainda era pouco para o que ela sentia.

        O ano era 1965, em pleno início dos severos governos militares. Chico era ativista do partido opositor e Lígia acabara de filiar-se. Pode até parecer piegas, contudo assim que eles se viram pela primeira vez, o encanto instalou-se. E ela soube, era o homem da sua vida. O cortejo, os beijos atrás dos palcos dos inflamados discursos de seus colegas. Tudo era como ela jamais tinha imaginado. O pedido de namoro foi antes de uma passeata contra o AI-2, com o violão na mão e uma música nos lábios, ele a pediu em namoro. Podia ser mais romântico que isso? Ele era perfeito.

        Era um amor tão intenso quanto o calor do Rio de Janeiro no verão. E após um ano juntos, ele a presenteou com algo que escrevera: ''Morena dos olhos d'água, tira os olhos do mar, vem ver que a vida ainda vale, o sorriso que eu tenho para lhe dar''. Largo foi o sorriso dela, ao ler. E que sorriso bonito ela tinha!

        A repressão tornou-se cada vez pior, estava difícil prosseguir na luta. Todavia ele sempre estava lá, e tudo ficava mais fácil, mais bonito. O tempo foi passando, violência de tudo que era lado, protestos, quase quatro anos juntos, quatro anos combativos e apaixonados! 

        Chico fora mandado para o exílio. E nem sei dizer como ela ficou quando ele partiu. Dizia que um pedaço havia sido arrancado, uma metade afastada... E que a saudade era o pior tormento. As músicas ele levara, o amor ficou e, assim, ela o viu sumir por aí. Um término imposto contra o desejo deles de ficarem juntos. A melhor época, os anos dourados, findaram-se. 

        Para completar sua desgraça, sua família, que nunca fora a favor de sua filiação política ou de seu amor com Chico, a obrigou a casar com um rico empresário e a largar da política! Sua mãe estava doente e seu pai desempregado. Deixar seus dois grandes amores. Essa era a saída mais viável para os tormentos de seus pais, mas não para os dela. O que ela podia fazer? Lutou tanto pela liberdade e terminou encarcerada em sua própria vida. Nem o desespero poderia salvá-la.

        O homem que casara, não era de todo mal. Um ''bom homem''. Sempre afirmava isso com olhos marejados de saudades do seu verdadeiro amor. Após dois anos juntos, Chico voltara do exílio. Lígia nunca se arrependeu tanto de não ter sido obstinada contra seus pais. E, assim, nunca mais se perdoou. Quando ele soube que ela havia casado, marcou um encontro, e às escondidas, se viram pela última vez. Ao partir, ele entregou um envelope que continha uma foto e disse: 
- Vou te ter carinho e nenhuma mágoa, meu amor.

        Agora Lígia olhava para a foto e martirizava-se por não ter vivido ao lado do seu grande amor. Estava sozinha, seu marido morrera, seus filhos já estavam crescidos e independentes, e em todos esses anos o ''bom homem'' nunca fora amado por ela, e nem podia, já que ela sempre amou o magnífico Chico. 

        Ela puxou um envelope de dentro de um baú de couro marrom, com detalhes dourados bem torneados. Era o envelope que ele havia lhe dado quando se viram pela última vez. Ela o abriu, puxou a foto, fitou-a por alguns segundos, e lembrou que eles eram um belo casal. Olhou mais um pouco e depois leu o que estava na parte de trás, escrito por caneta de tinta preta, ela até conseguia imaginá-lo escrevendo:''dorme minha pequena, não vale a pena despertar, eu vou sair por aí afora, atrás da aurora mais serena''.

        Que palavras lindas, realmente, ''magnificamente estupendo'' era pouco! Deu uma leve risada. E, de repente, sentiu uma forte dor, que jamais sentira antes, fechou seus olhos e lágrimas rolaram pelo seu rosto abatido e pairaram nos seus cabelos brancos, viu da janela que lá fora chovia. Então, em um sábado chuvoso ela descansou, um descansar eterno.



G. Farfalla 



Soneto

''Automat'' - Edward Hopper (1927)
Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio


Chico Buarque de Hollanda (1971)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Solidão


Desesperança das desesperanças...
Solitude, de Jean Jacques Henner
Última e triste luz de uma alma em treva...
- A vida é um sonho vão que a vida leva
Cheio de dores tristemente mansas.

- É mais belo o fulgor do céu que neva
Que os esplendores fortes das bonanças
Mais humano é o desejo que nos ceva
Que as gargalhadas claras das crianças.

Eu sigo o meu caminho incompreendido
Sem crença e sem amor, como um perdido
Na certeza cruel que nada importa.

Às vezes vem cantando um passarinho 
Mas passa. E eu vou seguindo o meu caminho
Na tristeza sem fim de uma alma morta.


Vinícius de Moraes 



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Sádico e a Garota



Quem é esse?  Ninguém conhece.

O que fizeram com aquele outro? Creio que nunca existiu.

Por que tudo era tão obscuro? Era preciso que fosse, pois na obscuridade ele escondeu a outra face. Foi na penumbra que jurou só a um amor querer. E ela acreditou piamente. Um grande erro, que só a fez sofrer. Ela deixou que conhecesse o seu âmago, a parte mais profunda e a mais rasa. Enquanto, sequer conhecia o que estava na pele dele. Tudo estava tão encoberto, entre flores e afeto, ela confiava nele de olhos fechados.

Desde quando ele procurava os lábios alheios? Nunca se saberá. Ele usou de sua eloquência para usá-las. Tal qual fez com a sensível garota. E entre noites e madrugadas sem descansar o corpo e encostar a cabeça no travesseiro só havia o ‘’por que ele agiu assim?’’. Ele a feriu antes, sem ao menos ela tê-lo ferido. Pensando bem, ele sempre a feriu. Seja com palavras ou atos, eles eram cheios de pouca sinceridade.  

As lágrimas. Seriam elas apenas mais um artifício para enganá-la? Não sei. Somente vi o tormento que a causavam. Como ele a crucificava! Maria Madalena, ele a chamava. E quando seu manto de cordeiro caiu, passou de um Cristo para um Judas.

Foram muitas? Na verdade, isso não importava tanto para ela. O que mais doía era saber que ao mesmo tempo em que ele dizia amá-la, fazia as mais baratas e torpes promessas de um falso amor às outras. Engraçado que muitas histórias que ele disse para conquistá-la, outras também ouviram as mesmas.

Isso lhe dava prazer? Ocupar o posto de rei e sair com as outras mulheres do reino fazendo-a passar por uma ‘’boba da corte’’? Acredito que dava. Entre súplicas (dela) e migalhas de amor (dele), ela foi enfim percebendo que havia algo de errado. O toque dele estava diferente, o olhar mais frio. Talvez tenha sempre sido assim. E nunca percebeu que ele também atuava em sua presença. Fingindo ser alguém que jamais foi.

O que mais?! Ele engendrou uma bela trama! E entre uma cena e outra, muitas lágrimas e muitos risos rolaram. Diversas faces ele usou, tinha um armário diversificado! De um louco apaixonado, um namorado dedicado a um menino sofredor. Apenas nos últimos atos, foi com sua autêntica face, a de sádico, mas o público não gostou! Triste fim para esse garoto.

Como era ela? Ela era dedicada, fiel ao seu amor, como ele jamais foi. E se um dia ela errou, digamos que foi em legítima causa das estacas que ele havia enfincado no coração dela. A forma como ela preparava seu carinho para cada cena, os simples gestos e palavras ditas eram até exagerados no ponto de vista de alguns. E quem não é exagerado quando ama? Sinto falta das belas risadas que um dia eles partilharam e dos sonhos ultrapassados de casamento e filhos, que envolviam cerejeiras e muita música.

Cerejeiras?! Sim, ela era apaixonada por elas. A garota era sutil e colorida. Tal qual uma borboleta ela voava sonhando. E contracenava no palco da vida com uma euforia tamanha! Um dos sonhos era que casaria embaixo de uma cerejeira, e o outro sonho nasceria desse aí, os quatro filhos, três meninas e um menino, que viriam para completar o conto de fadas.  Garota boba, tão nova e tentando adivinhar o futuro. 

O que vai acontecer agora? Seria errado estragar a surpresa do final. A garota não é mais uma boba apaixonada, está bem cansada desses assuntos afetivos, creio que ela endureceu um pouco. Não sei o que mudou ou se mudou algo dentro do garoto, só sei que, por enquanto, ele vai andando desconcertado por aí... 


G. Farfalla

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Frio

''(500) Days Of Summer''

Que saudades são essas? 
Gostaria tanto de estar em um lugar tão preciso quanto o meu sentimento. Porém, infelizmente não posso.
Faz tanto tempo que não ouço tua voz, mesmo ela ainda ecoando nos meus sonhos.
Lembro que teu abraço sempre vinha nos momentos propícios para me acalentar.

As tão suaves e estrondosas gargalhadas que distribuíamos por aí.
E as conversas que fluíam na complexidade dos dias...
Terá esmaecido tanto assim nossa amizade? Pois, a tua confiança não me procura mais.
Sinto-me como em uma foto antiga, cujo tempo aos poucos mitigou maleficamente meu espírito. 
Meu rosto desaparecera mesmo desta foto?

Como o frio amortiza minhas ações. Sequer consigo levantar-me daqui e perguntar-te o porquê disso tudo.
Entretanto a aparência engana. Eu não desisti de acreditar em te chamar de melhor amigo.
E por mais visitadas que sejam tais palavras, eu te amo. 
Comigo o amor sincero é eterno, ainda que não seja recíproco.

Não direi adeus, ou qualquer frase com cunho de despedida. 
Apenas usarei o meu infindável companheiro – o silêncio.
Acho que minhas palavras não irão alcançar-te, mas, por favor, não demore.


G. Farfalla

Soneto de Fidelidade

''Paperman''
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar o meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


''O Poetinha''



domingo, 27 de janeiro de 2013

Olhos nos olhos


Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.

Quando talvez precisar de mim,
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver  o que você me diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.


Chico Buarque de Hollanda



domingo, 20 de janeiro de 2013

Uma noite de insônia







Ainda acordada. Seis e dezesseis da manhã. Pensando no que fazer para te trazer de volta aos meus braços. Nossa! Isso quase soa como o início de uma poesia! Porém, sem métrica, nem rima, apenas com os meus sentimentos em exposição, tão expostos quanto o corpo nu de Vênus, ou de uma meretriz comum.

Estou igual a uma andarilha, porém sem destino algum. Reflito, pondero, e me desespero! Sei que tu cansaste, que a raiva entranhou no teu peito e o ar encontra-se difícil de respirar. Percebi que a cada dia, tu buscas um meio de me odiar mais ainda do que me amas. Oh, meu amor. Tu sabes, e eu sei, que isso é impossível! Não, não me entendas mal. Isso não é uma crise de egocentrismo! Longe de mim! É que só pode existir um dos dois. Na verdade, amor e ódio não coexistem, digo, eles não podem ter a mesma intensidade.

Não existe um sistema onde as coisas sejam divididas igualmente, não há equilíbrio, só o desequilíbrio, nós vivemos no mundo da entropia! Por isso que o socialismo é utópico! Rs. Aonde eu quero chegar com isso, não é? Fazer-te lembrar das nossas conversas madrugadas a fio? Quando eu ficava buscando te dizer coisas interessantes para não cansares de mim.

Pergunto-me como continuarei escondendo toda esta agonia, esta ânsia de querer-te de volta. Só queria tocar tua pele, inspirar o teu calor, e não sentir nenhuma dor. É pedir demais? Então, vou te propor um desafio: fique perto de mim, sem querer enlaçar-me nos teus braços e beijar-me! Ah, eu duvido. Não queres mesmo que eu fique? Se tu tens coragem, não deixes que eu parta!  Quero que tu esqueças este maldito orgulho e acredites nas minhas nuas palavras. Juro que não há subterfúgio algum na construção delas. Simplesmente, elas significam o que têm que significar.

Podemos ser tão irracionais, a ponto de não pensar nas consequências de jogar um vaso de vidro uns 10 metros para cima, e esperar que ele caísse em nossas mãos, intacto? Como se a gravidade não existisse, maldita gravidade! A força e a consequência do ato. Porém, os acontecimentos não precisam de juízo de valor. Mais grave ou menos grave, o que importa é que nada é perene, tudo está em transformação, assim como os sentimentos e o vaso. Ele se tornou outra forma de energia quando caiu. Modificou-se. Assim como a gente. E não significa que é algo bom, ou ruim. Não concordas comigo?

Permaneço insone. Nós dois conhecemos a situação. Existe um coração partido, mas duas pessoas que precisam ser salvas. Pensar nisso causa um nó, áspero, difícil de passar pela garganta. Eu te causei essas lágrimas, eu me causei essas lágrimas. O pior é não encontrar a saída do labirinto, a resposta da charada. E o que me angustia é a tua resposta.

Já ultrapassei o abismo do desespero, e entre um destempero e outro, cheguei ao limbo. O relógio marca sete horas e sete minutos, seria uma incrível coincidência, ou até a hora estaria me punindo? Sete. O número que norteia tua vida. Coloquei uma ‘’playlist’’ bem cabível ao momento. Nada melhor do que aumentar o sofrimento ouvindo músicas, que parecem ter sido feitas só para o momento em especial. Pensei em todas as soluções, nas opções de fuga, mas meus olhos só conseguem derramar tristeza, e não consigo pensar em alguma esperança.

E, como em uma sessão de tortura, fico me lembrando do primeiro beijo. Meus pensamentos ficam cada vez mais dilacerados, destroçados. Pois não foi somente um primeiro beijo, foi a primeira vez que eu me senti conectada e tão alucinada por alguém. Quase tropecei na escada. Refletir, e subir escadas são ações perigosas de serem realizadas ao mesmo tempo. Não sei para onde olhar, aonde andar e o que fazer. Eu ainda te amo mais do que qualquer uma poderia.

É exagero querer não sonhar mais, se tu fores embora? Pedir para que meus pulmões parem de inspirar este ar, pobre do teu cheiro? Não me deixe perseguindo os carros a tua procura. Posso atirar-me definitivamente na escuridão, que eu mesma deixei existir. Vem comigo, preciso do teu ar, da tua luz que irradia do teu sorriso, do calor dos teus abraços, da esperança que os teus beijos me proporcionam, dos sonhos que os teus olhos de encontro aos meus já compartilharam.

Já são sete horas e vinte e dois minutos. Então, por favor, não me deixe ir.


G. Farfalla