Quem é esse? Ninguém conhece.
O que fizeram com aquele outro? Creio
que nunca existiu.
Por que tudo era tão obscuro? Era
preciso que fosse, pois na obscuridade ele escondeu a outra face. Foi na
penumbra que jurou só a um amor querer. E ela acreditou piamente. Um grande
erro, que só a fez sofrer. Ela deixou que conhecesse o seu âmago,
a parte mais profunda e a mais rasa. Enquanto, sequer conhecia o que estava na
pele dele. Tudo estava tão encoberto, entre flores e afeto, ela confiava nele
de olhos fechados.
Desde quando ele procurava os
lábios alheios? Nunca se saberá. Ele usou de sua eloquência para usá-las. Tal
qual fez com a sensível garota. E entre noites e madrugadas sem descansar o
corpo e encostar a cabeça no travesseiro só havia o ‘’por que ele agiu assim?’’.
Ele a feriu antes, sem ao menos ela tê-lo ferido. Pensando bem, ele sempre a feriu.
Seja com palavras ou atos, eles eram cheios de pouca sinceridade.
As lágrimas. Seriam elas apenas
mais um artifício para enganá-la? Não sei. Somente vi o tormento que a causavam.
Como ele a crucificava! Maria Madalena, ele a chamava. E quando seu manto de
cordeiro caiu, passou de um Cristo para um Judas.
Foram muitas? Na verdade, isso
não importava tanto para ela. O que mais doía era saber que ao mesmo tempo em
que ele dizia amá-la, fazia as mais baratas e torpes promessas de um falso amor
às outras. Engraçado que muitas histórias que ele disse para conquistá-la, outras também ouviram as mesmas.
Isso lhe dava prazer? Ocupar o
posto de rei e sair com as outras mulheres do reino fazendo-a passar por uma ‘’boba
da corte’’? Acredito que dava. Entre súplicas (dela) e migalhas de amor (dele),
ela foi enfim percebendo que havia algo de errado. O toque dele estava
diferente, o olhar mais frio. Talvez tenha sempre sido assim. E nunca percebeu
que ele também atuava em sua presença. Fingindo ser alguém que jamais foi.
O que mais?! Ele engendrou uma
bela trama! E entre uma cena e outra, muitas lágrimas e muitos risos rolaram. Diversas
faces ele usou, tinha um armário diversificado! De um louco apaixonado, um
namorado dedicado a um menino sofredor. Apenas nos últimos atos, foi com sua autêntica
face, a de sádico, mas o público não gostou! Triste fim para esse garoto.
Como era ela? Ela era dedicada,
fiel ao seu amor, como ele jamais foi. E se um dia ela errou, digamos que foi
em legítima causa das estacas que ele havia enfincado no coração dela. A forma
como ela preparava seu carinho para cada cena, os simples gestos e palavras
ditas eram até exagerados no ponto de vista de alguns. E quem não é exagerado
quando ama? Sinto falta das belas risadas que um dia eles partilharam e dos
sonhos ultrapassados de casamento e filhos, que envolviam cerejeiras e muita
música.
Cerejeiras?! Sim, ela era apaixonada
por elas. A garota era sutil e colorida. Tal qual uma borboleta ela voava sonhando.
E contracenava no palco da vida com uma euforia tamanha! Um dos sonhos era que
casaria embaixo de uma cerejeira, e o outro sonho nasceria desse aí, os quatro
filhos, três meninas e um menino, que viriam para completar o conto de fadas. Garota boba, tão nova e tentando
adivinhar o futuro.
O que vai acontecer agora? Seria errado
estragar a surpresa do final. A garota não é mais uma boba apaixonada, está bem cansada desses assuntos afetivos, creio que ela endureceu um pouco. Não sei o que mudou ou se mudou algo dentro do garoto, só sei que,
por enquanto, ele vai andando desconcertado por aí...
G. Farfalla
Desconcerto construtivo. Seja lá qual for o ponto de vista da obra, seja lá pra o que ela vai ser usada...
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