segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Sádico e a Garota



Quem é esse?  Ninguém conhece.

O que fizeram com aquele outro? Creio que nunca existiu.

Por que tudo era tão obscuro? Era preciso que fosse, pois na obscuridade ele escondeu a outra face. Foi na penumbra que jurou só a um amor querer. E ela acreditou piamente. Um grande erro, que só a fez sofrer. Ela deixou que conhecesse o seu âmago, a parte mais profunda e a mais rasa. Enquanto, sequer conhecia o que estava na pele dele. Tudo estava tão encoberto, entre flores e afeto, ela confiava nele de olhos fechados.

Desde quando ele procurava os lábios alheios? Nunca se saberá. Ele usou de sua eloquência para usá-las. Tal qual fez com a sensível garota. E entre noites e madrugadas sem descansar o corpo e encostar a cabeça no travesseiro só havia o ‘’por que ele agiu assim?’’. Ele a feriu antes, sem ao menos ela tê-lo ferido. Pensando bem, ele sempre a feriu. Seja com palavras ou atos, eles eram cheios de pouca sinceridade.  

As lágrimas. Seriam elas apenas mais um artifício para enganá-la? Não sei. Somente vi o tormento que a causavam. Como ele a crucificava! Maria Madalena, ele a chamava. E quando seu manto de cordeiro caiu, passou de um Cristo para um Judas.

Foram muitas? Na verdade, isso não importava tanto para ela. O que mais doía era saber que ao mesmo tempo em que ele dizia amá-la, fazia as mais baratas e torpes promessas de um falso amor às outras. Engraçado que muitas histórias que ele disse para conquistá-la, outras também ouviram as mesmas.

Isso lhe dava prazer? Ocupar o posto de rei e sair com as outras mulheres do reino fazendo-a passar por uma ‘’boba da corte’’? Acredito que dava. Entre súplicas (dela) e migalhas de amor (dele), ela foi enfim percebendo que havia algo de errado. O toque dele estava diferente, o olhar mais frio. Talvez tenha sempre sido assim. E nunca percebeu que ele também atuava em sua presença. Fingindo ser alguém que jamais foi.

O que mais?! Ele engendrou uma bela trama! E entre uma cena e outra, muitas lágrimas e muitos risos rolaram. Diversas faces ele usou, tinha um armário diversificado! De um louco apaixonado, um namorado dedicado a um menino sofredor. Apenas nos últimos atos, foi com sua autêntica face, a de sádico, mas o público não gostou! Triste fim para esse garoto.

Como era ela? Ela era dedicada, fiel ao seu amor, como ele jamais foi. E se um dia ela errou, digamos que foi em legítima causa das estacas que ele havia enfincado no coração dela. A forma como ela preparava seu carinho para cada cena, os simples gestos e palavras ditas eram até exagerados no ponto de vista de alguns. E quem não é exagerado quando ama? Sinto falta das belas risadas que um dia eles partilharam e dos sonhos ultrapassados de casamento e filhos, que envolviam cerejeiras e muita música.

Cerejeiras?! Sim, ela era apaixonada por elas. A garota era sutil e colorida. Tal qual uma borboleta ela voava sonhando. E contracenava no palco da vida com uma euforia tamanha! Um dos sonhos era que casaria embaixo de uma cerejeira, e o outro sonho nasceria desse aí, os quatro filhos, três meninas e um menino, que viriam para completar o conto de fadas.  Garota boba, tão nova e tentando adivinhar o futuro. 

O que vai acontecer agora? Seria errado estragar a surpresa do final. A garota não é mais uma boba apaixonada, está bem cansada desses assuntos afetivos, creio que ela endureceu um pouco. Não sei o que mudou ou se mudou algo dentro do garoto, só sei que, por enquanto, ele vai andando desconcertado por aí... 


G. Farfalla

Um comentário:

  1. Desconcerto construtivo. Seja lá qual for o ponto de vista da obra, seja lá pra o que ela vai ser usada...

    ResponderExcluir