Ainda
acordada. Seis e dezesseis da manhã. Pensando no que fazer para te trazer de
volta aos meus braços. Nossa! Isso quase soa como o início de uma poesia!
Porém, sem métrica, nem rima, apenas com os meus sentimentos em exposição, tão
expostos quanto o corpo nu de Vênus, ou de uma meretriz comum.
Estou
igual a uma andarilha, porém sem destino algum. Reflito, pondero, e me
desespero! Sei que tu cansaste, que a raiva entranhou no teu peito e o ar
encontra-se difícil de respirar. Percebi que a cada dia, tu buscas um meio de
me odiar mais ainda do que me amas. Oh, meu amor. Tu sabes, e eu sei, que isso
é impossível! Não, não me entendas mal. Isso não é uma crise de egocentrismo!
Longe de mim! É que só pode existir um dos dois. Na verdade, amor e ódio não
coexistem, digo, eles não podem ter a mesma intensidade.
Não
existe um sistema onde as coisas sejam divididas igualmente, não há equilíbrio,
só o desequilíbrio, nós vivemos no mundo da entropia! Por isso que o socialismo
é utópico! Rs. Aonde eu quero chegar com isso, não é? Fazer-te lembrar das
nossas conversas madrugadas a fio? Quando eu ficava buscando te dizer coisas
interessantes para não cansares de mim.
Pergunto-me
como continuarei escondendo toda esta agonia, esta ânsia de querer-te de volta.
Só queria tocar tua pele, inspirar o teu calor, e não sentir nenhuma dor. É
pedir demais? Então, vou te propor um desafio: fique perto de mim, sem querer
enlaçar-me nos teus braços e beijar-me! Ah, eu duvido. Não queres mesmo que eu
fique? Se tu tens coragem, não deixes que eu parta! Quero que tu esqueças este maldito orgulho e acredites
nas minhas nuas palavras. Juro que não há subterfúgio algum na construção
delas. Simplesmente, elas significam o que têm que significar.
Podemos
ser tão irracionais, a ponto de não pensar nas consequências de jogar um vaso
de vidro uns 10 metros para cima, e esperar que ele caísse em nossas mãos, intacto?
Como se a gravidade não existisse, maldita gravidade! A força e a consequência
do ato. Porém, os acontecimentos não precisam de juízo de valor. Mais grave ou
menos grave, o que importa é que nada é perene, tudo está em transformação,
assim como os sentimentos e o vaso. Ele se tornou outra forma de energia quando
caiu. Modificou-se. Assim como a gente. E não significa que é algo bom, ou ruim.
Não concordas comigo?
Permaneço
insone. Nós dois conhecemos a situação. Existe um coração partido, mas duas
pessoas que precisam ser salvas. Pensar nisso causa um nó, áspero, difícil de
passar pela garganta. Eu te causei essas lágrimas, eu me causei essas lágrimas.
O pior é não encontrar a saída do labirinto, a resposta da charada. E o que me
angustia é a tua resposta.
Já
ultrapassei o abismo do desespero, e entre um destempero e outro, cheguei ao limbo.
O relógio marca sete horas e sete minutos, seria uma incrível coincidência, ou
até a hora estaria me punindo? Sete. O número que norteia tua vida. Coloquei
uma ‘’playlist’’ bem cabível ao momento. Nada melhor do
que aumentar o sofrimento ouvindo músicas, que parecem ter sido feitas só para o
momento em especial. Pensei
em todas as soluções, nas opções de fuga, mas meus olhos só conseguem derramar
tristeza, e não consigo pensar em alguma esperança.
E,
como em uma sessão de tortura, fico me lembrando do primeiro beijo. Meus
pensamentos ficam cada vez mais dilacerados, destroçados. Pois não foi somente
um primeiro beijo, foi a primeira vez que eu me senti conectada e tão alucinada
por alguém. Quase tropecei na escada. Refletir, e subir escadas são ações
perigosas de serem realizadas ao mesmo tempo. Não sei para onde olhar, aonde
andar e o que fazer. Eu ainda te amo mais do que qualquer uma poderia.
É
exagero querer não sonhar mais, se tu fores embora? Pedir para que meus pulmões
parem de inspirar este ar, pobre do teu cheiro? Não me deixe perseguindo os
carros a tua procura. Posso atirar-me definitivamente na escuridão, que eu
mesma deixei existir. Vem comigo, preciso do teu ar, da tua luz que irradia do
teu sorriso, do calor dos teus abraços, da esperança que os teus beijos me
proporcionam, dos sonhos que os teus olhos de encontro aos meus já compartilharam.
Já
são sete horas e vinte e dois minutos. Então, por favor, não me deixe ir.
G. Farfalla