quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Maestria

Silêncio...
O ócio transborda, entrelaça-me e afoga meus pensamentos em ti. Meus olhos fundos - consequências de uma insônia diária - estão atentos a tua falta. E se eles refletem certo desequilíbrio, o restante do meu corpo acompanha. Seja nas minhas mãos em seus incertos movimentos ou na alta frequência dos meus batimentos... Involuntariamente somatizo cada lembrança. Batem - o coração, as mãos e os pés - depressa, com angústia e muita intensidade. Uma orquestra! Regida com um certo desespero pelo maestro dos que amam, mas estão distantes dos seres amados. O bastão pesa, faz o ritmo aumentar e resulta em notas apressadas, que nada mais querem do que resgatar o eu-lírico deste chiste inacabado, que é não estar perto de ti. Ahh, esperar o sinal do maestro para reencontrar-te é um martírio. A solução é fazer minha respiração consonante à sinfonia construída. O que gradativamente traz-me placidez. Mãos, pés e coração em um ritmo tranquilo, porém estreito. Como se estivessem à espreita da reviravolta dos sons ditados pelo bastão. Observo os movimentos das mãos sisudas, porém suaves do maestro. O seu nome apenas confirma meus devaneios. De repente, um suspense. É o último ato, a melodia torna-se apreensiva e a contagem regressiva. Com dificuldade em me controlar, penso estar tendo uma alucinação...Entretanto, não, não estou. As notas finalmente trouxeram-te até mim. Nossos lábios tocam e confabulam. Nossas mãos - nervosas - tocam a pele, a tua e a minha. Sinto uma dor constrita no lado esquerdo do peito. Coração bate mais forte e a respiração ofega. Meus olhos atentos a ti. A última nota toca. Por fim, o maestro recebe os aplausos da exultante plateia.
"Saudade", o maestro. E "reencontro", a sinfonia.





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